
Entrevistas de emprego e limites legais: Candidato abandona entrevista de emprego após pergunta ‘pessoal’ e relato viraliza: ‘Desconfortável’
Passar por entrevistas de emprego pode ser um desafio, mas para um jovem da Indonésia, identificado apenas como Micky, de 28 anos, a experiência foi além do desconforto habitual. Durante uma entrevista para uma vaga administrativa em Bandung, ele se deparou com uma situação inusitada: a recrutadora insistiu em saber onde seu pai trabalhava e, ao se recusar a responder, foi informado de que a conversa não poderia continuar.
Micky, que compartilhou sua história no Reddit com o nome de usuário /u/MICKY5789, relatou que já começou a entrevista com uma impressão negativa. Apesar de ter chegado com antecedência, foi atendido com mais de uma hora de atraso e, ao finalmente ser chamado, a recrutadora atendeu dois telefonemas antes de iniciar a conversa.
No decorrer da entrevista, além do tom rude da entrevistadora, ele se surpreendeu com a pergunta: “O que seu pai faz para viver?”. Diante da insistência em saber onde o pai do candidato trabalhava, Micky recusou-se a responder e ouviu que, sem essa informação, o processo não poderia continuar. Sem discutir, ele simplesmente se levantou e foi embora.
Ao site da revista Newsweek ele diz que abandonou a entrevista porque se sentiu desconfortável. “Quando perguntaram sobre os detalhes do trabalho do meu pai, fiquei bastante relutante e, para ser honesto, em outras empresas do meu país, não me perguntaram sobre isso”, disse.
Reações nas redes sociais e debate sobre respeito profissional
O relato de Micky rapidamente viralizou no subreddit “Antiwork”, onde recebeu mais de 6.500 votos positivos e gerou uma enxurrada de comentários de apoio. Muitos usuários criticaram a conduta da empresa e compartilharam experiências semelhantes.
“Julgar um candidato pelo trabalho do pai não faz sentido. O foco deveria ser nas qualificações dele”, comentou um usuário. Outro acrescentou: “Chegar atrasado e ainda fazer perguntas invasivas? Fugiu de um grande problema”.
Por outro lado, algumas pessoas destacaram que o atraso em entrevistas pode ser justificável em certos casos, desde que acompanhado de comunicação e respeito.
Apesar da experiência negativa, Micky conseguiu uma nova entrevista no dia seguinte em outra empresa, onde relatou um tratamento muito mais profissional. Seu caso reforça a importância de que entrevistas de emprego sejam um espaço de avaliação mútua, onde tanto o candidato quanto a empresa devem demonstrar respeito e profissionalismo.
Especialistas alertam sobre limites em entrevistas de emprego
Se o caso tivesse acontecido no Brasil, o candidato poderia buscar ajuda jurídica. O especialista Ricardo Christophe da Rocha Freire, sócio da área de Direito do Trabalho do escritório Gasparini, Barbosa e Freire Advogados explica que, mesmo sem um contrato assinado, o candidato pode recorrer à Justiça caso se sinta humilhado ou discriminado durante o processo seletivo.
“Essas etapas preparatórias podem ser consideradas uma questão pré-contratual e, se o candidato se sentir rebaixado, invadido ou moralmente ofendido, ele pode até processar a empresa”, afirma. “Ainda que não tenha sido contratado, a empresa pode responder na Justiça do Trabalho por esse tipo de dano.”
Ele destaca que, no Brasil, a recomendação é que as entrevistas se limitem ao histórico profissional do candidato, sem abordagens pessoais. “Questões como orientação religiosa, estado civil ou número de filhos não têm relação direta com a função e podem ser consideradas discriminatórias”, explica.
Outro ponto levantado é que, em alguns casos, perguntas sobre o trabalho de familiares podem ser justificadas por conflito de interesses, como quando um candidato se inscreve para uma empresa concorrente ao local onde um parente próximo trabalha. No entanto, esse tipo de questionamento deve ser feito com transparência e justificativa clara.
Uma entrevista de emprego deve focar em aspectos técnicos e experiências profissionais do candidato, de acordo com Julia Domiciano, gerente de relacionamento e recrutamento do escritório Viseu Secondment. “O RH precisa se atentar às competências do profissional, como idiomas, conhecimentos em softwares e experiências anteriores”, pontua. “Tudo que envolva a parte pessoal não é bem-vindo e pode constranger o candidato, criando uma primeira impressão negativa da empresa.”
Ela destaca que algumas perguntas problemáticas ainda são comuns, como questionamentos sobre idade e filhos, que podem reforçar preconceitos como o etarismo e a desigualdade de gênero no mercado de trabalho. “Infelizmente, mesmo em 2025, ainda vemos relatos de mulheres sendo perguntadas se têm filhos, algo que muitas vezes afeta a contratação delas”, observa.
“O ideal é que os recrutadores estejam alinhados com as normas éticas do processo seletivo, evitando perguntas discriminatórias e garantindo um ambiente respeitoso para os candidatos.”
A advogada Juliana Campão, da área trabalhista do escritório Lopes Muniz Advogados, acrescenta ainda que a legislação brasileira proíbe práticas discriminatórias no acesso ao emprego e ressalta que não há vedação legal para que os candidatos se preparem para entrevistas. “É recomendável que o candidato estude as qualificações exigidas para a vaga e conheça um pouco mais sobre a empresa contratante, incluindo sua história e projetos sociais, por exemplo”, conclui.